
Trump insiste em que Brasil 'mude de rumo' e Lula rebate: 'chantagem inaceitável'

Em um novo capítulo da escalada entre Brasil e Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta quinta-feira (17) de "chantagem inaceitável" a ameaça tarifária a seu país de Donald Trump, que horas antes havia insistido em que o governo brasileiro "mude de rumo" e "deixe de atacar" Jair Bolsonaro.
Em 9 de julho, o presidente americano anunciou tarifas punitivas de 50% sobre os produtos brasileiros, e as justificou por uma suposta "caça às bruxas" no Brasil contra o ex-presidente Bolsonaro, julgado por uma suposta tentativa de golpe em 2022.
Em um pronunciamento em rede nacional sob o título de "Brasil Soberano", Lula chamou "alguns políticos brasileiros" de "traidores da pátria", que dão "apoio" à pressão de Trump sobre a economia do Brasil.
"Não é um gringo que vai dar ordem a um presidente da República", disse, anteriormente, o governante brasileiro em um ato oficial.
Lula reafirmou que seguirá "apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais", mas advertiu que "o Brasil tem um único dono – o povo brasileiro".
Mais cedo, Trump insistiu em que o governo Lula "mude de rumo" e "deixe de atacar" Bolsonaro, em uma carta destinada ao ex-presidente brasileiro divulgada em sua plataforma Truth Social.
Bolsonaro enfrenta um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente ter tentado impedir a posse de Lula depois que o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) o derrotou nas eleições de 2022.
Se for considerado culpado, Bolsonaro pode pegar até 40 anos de prisão.
- 'Tratamento terrível' -
"Tenho acompanhado o tratamento terrível que você [Bolsonaro] está recebendo de um sistema injusto voltado contra você. Esse julgamento deveria terminar imediatamente!", escreveu Trump na carta a Bolsonaro.
"Expressei firmemente minha desaprovação, tanto publicamente como através de nossa política tarifária", acrescentou.
O presidente republicano de 79 anos também afirma estar "muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, provenientes do atual governo".
Nisso, ele parece fazer referência a um bloqueio no Brasil, por decisão judicial, do Rumble, uma plataforma para compartilhar vídeos popular entre grupos conservadores que se negou a suspender a conta de um usuário brasileiro residente nos Estados Unidos e investigado pela Justiça brasileira por difundir desinformação.
"Não me surpreende vê-lo liderando as pesquisas", afirmou Trump sobre Bolsonaro, embora Lula lidere as intenções de voto para o primeiro turno das eleições de 2026, segundo um levantamento da Quaest divulgado esta semana.
Bolsonaro se mantém como o principal nome da direita no Brasil e insiste em ser candidato nas eleições de 2026, apesar de estar inelegível até 2030 por decisão da Justiça Eleitoral por ter questionado sem provas a confiabilidade do sistema de votação.
Lula, de 79 anos, afirma que também quer disputar as eleições do próximo ano.
Segundo a ameaça de Trump, se Brasil e Estados Unidos não chegarem a um acordo, Washington vai impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos provenientes da maior economia da América Latina.
Em uma tentativa de evitar essa taxação, o governo Lula enviou esta semana uma carta ao secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, e ao representante comercial Jamieson Greer, em que diz estar "pronto para dialogar [...] e negociar uma solução mutuamente aceitável".
A crise melhorou a popularidade de Lula, que apelou à unidade nacional ante a "interferência" americana com "apoio bolsonarista".
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL/SP), filho do ex-presidente, se mudou há alguns meses para os Estados Unidos, onde faz lobby para que o governo Trump pressione as autoridades brasileiras, inclusive ministros do STF.
O relator do caso de Bolsonaro no Supremo, o ministro Alexandre de Moraes, tachado de "ditador" pelo ex-presidente, pediu uma investigação para determinar se a campanha bolsonarista em Washington configura tentativa de obstrução de justiça.
Bolsonaro afirma que Trump é seu "amigo" e que ambos têm sido vítimas de "perseguição" judicial.
Trump, por sua vez, disse esta semana que "não é que [Bolsonaro] seja meu amigo. É alguém que conheço".
K.Im--SG