
Colômbia consolida romance comercial com a China, mas corre risco de irritar EUA

A Colômbia se aproxima cada vez mais da China em uma tentativa de diversificar mercados e impulsionar sua economia enfraquecida, mas a decisão do presidente Gustavo Petro pode enfurecer os Estados Unidos, seu principal parceiro comercial e em guerra tarifária contra o gigante asiático.
Petro, o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, visita esta semana Pequim para o IV Fórum Ministerial China-Celac e aproveitará para selar sua adesão à iniciativa chinesa da Faixa e Rota, um programa bilionário de infraestrutura que se expande pela América Latina.
Mas entidades setoriais e empresários temem que Washington veja com desconfiança essa nova aliança.
"A aproximação de Petro com a China é uma grande oportunidade para as rosas equatorianas e o café centro-americano" nos Estados Unidos, advertiu Mauricio Claver-Carone, enviado especial do Departamento de Estado para a América Latina, sobre os produtos emblemáticos colombianos que poderiam perder mercado.
A China tem ganhado terreno frente aos Estados Unidos como principal origem das importações da Colômbia. Entre 2014 e 2024, passou de 18,4% para 24,9% do total, somando 14,7 bilhões de dólares (R$ 82,7 bilhões) no último ano, segundo dados oficiais.
Os Estados Unidos, por sua vez, compram cerca de 30% das exportações colombianas, afirmou o presidente da Associação Nacional de Comércio Exterior, Javier Díaz.
– "Jogada política" –
A proximidade do presidente colombiano com a China é vista como "uma jogada política marcada pela ideologia, sem nenhum tipo de agenda" econômica, disse à AFP Parsifal D'Sola, diretor do Centro de Pesquisa China-América Latina.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já teve desentendimentos com Petro, enviou uma mensagem aos países que se aproximam de Pequim ao pressionar o Panamá para retomar o controle do canal interoceânico devido a uma suposta interferência chinesa em seus portos. Como consequência, o país centro-americano cancelou em fevereiro sua adesão à iniciativa Faixa e Rota.
"É uma provocação desnecessária com nosso principal parceiro estratégico e comercial, que são os Estados Unidos", opinou Jaime Alberto Cabal, presidente da Federação Nacional de Comerciantes da Colômbia.
Na China, Petro participa como presidente "pro tempore" da Celac do fórum que busca fortalecer os laços com Pequim.
"Vamos conversar com [o presidente chinês] Xi Jinping de igual para igual, não de joelhos", anunciou antes de sua viagem.
– 'Boom" chinês –
Em janeiro e fevereiro de 2025, o valor das importações da Colômbia provenientes da China superou o das importações dos Estados Unidos pela primeira vez desde a pandemia.
É uma "tendência que já se vislumbrava", afirmou Alejandro Useche, professor da Universidade do Rosário, em Bogotá. As importações chinesas cresceram impulsionadas por tecnologia e veículos de baixo custo.
O país asiático também tem realizado investimentos estratégicos na Colômbia, como a construção do metrô de Bogotá e diversas operações de mineração.
Mas Petro critica o déficit comercial com a segunda maior economia do mundo.
Segundo Ingrid Chaves, diretora da Câmara de Comércio Colombo-Chinesa, a Colômbia exportou 2,4 bilhões de dólares (R$ 13,5 bilhões) para o gigante asiático em 2024. Desse total, 80% correspondem a matérias-primas como petróleo e carvão, embora o café e a carne apresentem crescimento constante.
Bogotá inaugurou em fevereiro uma nova rota marítima que liga seu principal porto no Pacífico a Xangai. O projeto, com origem em Buenaventura, inclui uma parada no porto peruano de Chancay, principal aposta chinesa na região.
Esse "sonho chinês" poderia ser um alívio para Bogotá, que apresentou um déficit em suas finanças públicas de 6,7% do PIB em 2024, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.
Para a Colômbia, "é vantajoso diversificar suas exportações neste momento conjuntural", acrescentou Chaves.
– "Pouca análise" –
A balança comercial é mais deficitária com a China do que com os Estados Unidos. Em 2024, a diferença entre importações e exportações com o gigante asiático foi quase dez vezes maior do que com os EUA, segundo dados oficiais.
"A China parece interessada apenas em comprar nossas matérias-primas", alertou Bruce Mac Master, presidente da Associação Nacional de Industriais.
Ele acusou Petro de tomar a decisão de aderir às Novas Rotas da Seda — como também é conhecido o projeto global chinês que busca conectar seus parceiros por meio de rodovias, portos e ferrovias — com "muito pouca análise técnica".
Para o analista D'Sola, "não há nenhuma evidência" que comprove que a adesão à Faixa e Rota resulte em 'maior investimento ou maior intercâmbio comercial" com a China.
N.Hong--SG