
Líderes cristãos querem influenciar a reflexão sobre a IA

Os líderes cristãos querem influenciar a reflexão em torno do desenvolvimento da inteligência artificial (IA), tecnologia portadora de grandes esperanças, mas que suscita "graves preocupações éticas".
Dois dias após sua eleição, o papa Leão XIV já colocou o tema sobre a mesa. A IA, combinada com a nova revolução industrial, apresenta "novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho", explicou.
O sumo pontífice também expressou sua confiança nas respostas que pode oferecer a "doutrina social" da Igreja, centrada em princípios como a dignidade da pessoa, a solidariedade e o bem comum.
Nos Estados Unidos, vários líderes evangélicos escreveram, em 22 de maio, ao presidente Trump para alertá-lo sobre a chegada de uma IA "geral", potencialmente tão poderosa quanto a inteligência humana, e sobre "máquinas mais inteligentes que os humanos, que ninguém sabe controlar".
Um dos principais signatários da carta é o pastor conservador Johnnie Moore, próximo a Donald Trump e nomeado no início de junho à frente da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organismo cujo trabalho foi classificado pela ONU como "um fracasso" sob o ponto de vista humanitário.
Embora tenham defendido a liderança dos Estados Unidos em matéria de IA, os signatários pediram para incluir nesse esforço "pessoas de fé" cuja "principal motivação não seja comercial".
Essa vigilância por parte dos fiéis não é nova. Antes de Leão XIV, a Igreja Católica já havia intervindo em várias ocasiões sobre esse tema.
O Vaticano expressou sua doutrina sobre a IA em janeiro, em um texto intitulado "Antiqua et Nova", onde enumera as "oportunidades" mas também "graves motivos de preocupação ética".
– "Nova escravidão" –
Em 2020, o Vaticano já havia promovido o Chamado de Roma por uma ética da IA, assinado por Microsoft, IBM, ONU, Itália e uma variedade de universidades, encorajando a transparência e o respeito à privacidade.
O papa Francisco, defensor desde 2019 do conceito de "algorética" (ética do algoritmo) e crítico do "espectro de uma nova escravidão", dedicou à IA sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2024.
Para a Igreja, a reflexão sobre a tecnologia deve respeitar o eixo central da dignidade humana.
Isso significa rejeitar todo "sistema que simplesmente não consegue reconhecer a singularidade do ser humano e respeitá-lo", afirma à AFP Paolo Benanti, conselheiro do papa e principal especialista do Vaticano em inteligência artificial.
Para além das questões teológicas, há também um desafio pedagógico para as Igrejas. A Conferência Episcopal da França abordou esse "magistério das tecnologias" durante um colóquio em 10 de fevereiro passado.
"As IAs se tornarão o principal prescritor de conhecimentos religiosos?", questionou o teólogo Laurent Stalla Bourdillon. Segundo ele, "a Igreja pode encontrar uma capacidade inédita nessas ferramentas para expressar seu ponto de vista".
"Se a Igreja quer inspirar as consciências, deve ocupar esse terreno", destacou.
Já existem plataformas como CatéGPT ou HelloBible para orientar os fiéis.
O empresário francês Antoine Couret, que participou do colóquio, também destacou a utilidade de a Igreja desenvolver seus próprios modelos de IA.
"A melhor maneira de entender o que ocorre com esses modelos é fazer o seu próprio, especialmente se quer evitar um alinhamento com as sociedades norte-americanas", afirmou.
Um dos objetivos deve ser "trazer mais humanismo, garantir a transmissão, atenuar os medos e contribuir para a formação de um novo espírito crítico", ressaltou.
I.Do--SG