
Tecido de lã 'tweed', uma tradição que se perpetua em uma ilha no norte da Escócia

"Quando vemos o 'tweed' nas passarelas de moda, nós não imaginamos que vem daqui!", afirma orgulhoso Alexander MacLeod, um ex-bancário de 38 anos, em frente ao seu tear, em uma antiga fazenda na ilha escocesa Scalpay.
Alexander MacLeod se tornou tecelão há dois anos, contribuindo junto com outros habitantes das ilhas Lewis e Harris, ao noroeste da Escócia, à revitalização do setor do 'tweed', um tipo de tecido de lã grossa e resistente, depois de um longo período de declínio.
O 'tweed', um símbolo do patrimônio escocês, "sempre fez parte da cultura daqui. Agora é um setor atraente" nas ilhas Hébridas Exteriores, destaca esse homem, originário da Ilha Scalpay, conectada com a Harris por uma ponte.
"É algo bom para perpetuar a tradição", acrescenta.
Alexander MacLeod partiu por sete anos para trabalhar no setor bancário, mas o chamado de suas raízes era forte e voltou à ilha.
Durante o dia, trabalha para uma empresa local de cosméticos. Durante à noite, ele tece, pacientemente, em sua antiga fazenda de pedra.
O Harris Tweed, fabricado de maneira tradicional, com 100% de lã virgem de ovelha, é o único tecido protegido por uma lei do Parlamento britânico de 1993.
A lei estabelece que dever ser "tecido à mão pelos moradores das ilhas em suas casas nas Hébridas Exteriores, (....) com lã virgem tingida e fiada" nessas ilhas.
- "Ressurgimento" -
O tecelão fala de sua "satisfação" uma vez terminado o 'tweed'.
O tecido, que antes era associado à aristocracia britânico, então é enviado para a fábrica de fiação, onde sua qualidade é controlada, em busca do menor defeito. E, finalmente, pode receber a valiosa etiqueta "Harris Tweed", um globo coroado por uma cruz que certifica a origem e a autenticidade desse tecido, concedido pela Harris Tweed Authority (HTA).
Depois, a lã 'tweed' deixa a ilha, sendo comprada regularmente por marcas de luxo como Christian Dior, Chanel, Gucci.
Várias marcas de sapatos como Nike, New Balance e Converse a adotaram para edições limitadas.
No total, há 140 tecelões, segundo a HTA, que em 2023 lançou uma campanha de recrutamento em resposta às diversas aposentadorias e ofereceu oficinas para ensinar o ofício.
Esse saber fazer, frequentemente transmitido de geração em geração, agora foi aberto a outros perfis.
"É bom ver chegar pessoas mais jovens", se felicita Kelly MacDonald, a diretora de operações da HTA.
"Quando me uni ao setor, há umas duas décadas, realmente me perguntava se sobreviveria", recorda.
O declínio foi "severo", mas pouco a pouco houve "um ressurgimento".
"Agora estamos constantemente na busca de novos mercados", explica.
O 'tweed' é exportado para países como Coreia do Sul, Japão, Alemanha e França.
Não depende mais do mercado americano, como foi antes, por isso deve sofrer de maneira limitada às tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump.
Em 2024, foram produzidos mais de 580.000 metros de 'tweed', indica a HTA, que diz que o setor experimentou "um crescimento significativo" nos últimos anos.
- Slow fashion -
O tweed se “modernizou”, comemora Cameron MacArthur, que trabalha em uma das três fábricas de fiação, a Carloway Mill, no oeste da Ilha de Lewis.
Ele tem 29 anos, mas trabalha lá há 12. A fábrica, com suas grandes máquinas, parece não ter mudado em décadas, mas ele viu a evolução, com o rejuvenescimento da equipe, mas também da própria tecelagem.
“Estamos muito ocupados. Recebemos pedidos de todos os lugares”, diz ele.
O jovem tem “orgulho” de trabalhar com esse produto local.
Kelly MacDonald também destaca que o tweed atende às expectativas de uma moda mais ecológica, nos antípodas da “fast fashion”.
“É bom olhar para um mapa e dizer: 'Meu casaco vem daquela pequena ilha'”, diz ela.
O processo de fabricação é “muito longo”. Somos o exemplo perfeito de slow fashion”, diz Kelly MacDonald com um sorriso.
V.Pyo--SG